sexta-feira, 3 de julho de 2009

Educação, fundamental, mas um tanto fora das primeiras páginas dos jornais

Esta semana o governo anunciou um projeto de reforma curricular e pedagógica, voltada principalmente para o fomento à leitura, e que tem como pilar, tornar a escola mais atraente para os alunos. Haverá muita discussão a respeito ainda, mas de qualquer forma a educação é um assunto fundamental, embora não costume gerar manchetes de primeiras páginas, salvos em momentos de grandes escândalos.


Mês passado, postei o primeiro de uma série de artigos com o seguinte tema: Segurança pública, uma matéria multidiciplinar, um tripé. Claro que a educação não deve ser encarada somente como um assunto de mero interesse relativo ao tema da segurança pública. Mas se insere neste também.



Em 2007 estive em Cuba para lançar um filme e realizar outro. Fiquei impressionado que, apesar da pobreza do país, todas as crianças estudam, todos os adultos são alfabetizados, gostam de ler, de poesia, e etc. Claro, Cuba tem uma população em trono de 12 milhões de pessoas. Mas eles buscaram soluções interessantes. Pra começar as turmas têm no máximo 20/25 alunos. Ao invés de construirem grandes escolas, eles pegam casas em cada rua e montam uma escolinha lá. Dá pra pensar nisso aqui, indo nas comunidades, alugando casas e qualificando os proprietários para cuidarem das crianças, buscarem e levarem pras suas casas, etc.

Bem, eu sou bicão no assunto, portanto realizei uma entrevista com o Deputado Estadual do Rio de Janeiro, Comte Bittencourt, especialista no tema, educador e de uma família tradicional do ramo. Em amarelo seguem reflexões minhas.





1- Porque a gestão da educação no Brasil está tão deficitária?
Comte - A educação, infelizmente, não é encarada com a seriedade e a responsabilidade que a nossa sociedade merece. Os governos refletem esse descaso quando optam por não valorizar o professor, o que significa, sim, uma remuneração condigna . Eles resistem em investir no percentual mínimo constitucional. Não tratam a educação como uma política de estado, mas sim como uma política de governo. Em geral, a cada gestor, seja secretário ou ministro, novos projetos são lançados e outros são abandonados. Não há continuidade nas ações. Devemos lembrar que educação não se faz em um dia.


O Brasil investe cerca de 3,02% do PIB nacional em educação, enquanto países desenvolvidos investem cerca de 5%. Claro, há carência: educadores, recursos, infraestrutura, material escolar, gente pra pensar seriamente no assunto.

2- Como mudar a educação da decoreba para uma educação que realmente ajude o jovem a pensar?
Comte – A escola precisa se tornar agradável e útil aos alunos. Só assim vai despertar maior interesse e interação. O melhor seria uma reforma criteriosa no currículo escolar e, mais uma vez, o investimento no capital humano, que é o professor. Certamente, dessa maneira, vamos construir uma escola melhor e mais agradável.

3- O que é a Lei de Responsabilidade Educacional? E como se prevê a sua implantação?

Comte – A Lei foi sancionada em abril deste ano. Com ela, a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) deverá apresentar anualmente à Comissão de Educação da Alerj um relatório com todos os indicadores educacionais da rede pública estadual, até 120 dias após o término de cada ano letivo. A iniciativa é de suma importância para a educação no estado. Entre os indicadores exigidos pela nova lei, podemos citar: as taxas de alfabetização e de analfabetismo; os números relativos à evasão escolar; o total de professores em contratos temporários no estado; os programas relacionados à valorização e capacitação dos docentes, entre outros itens importantes. A implantação é de responsabilidade da Secretaria de Estado de Educação.


4- Como melhorar o nível dos professores e como podemos aumentar seus ganhos?
Comte – Oferecendo acesso e oportunidade para que os docentes invistam em sua formação acadêmica e capacitação e melhorando suas condições de trabalho. Uma melhor remuneração dos professores também ajudaria muito, mas isso depende exclusivamente do desejo dos governantes. Devemos lembrar que essa é uma categoria grande e onerosa, mas deve
ter a prioridade que a educação merece, o que justifica qualquer grande investimento.

Creio que é preciso apresentar a conta pra sociedade. Quanto custa em termos absolutos (quanto x milhões, ou bilhões de reais), e em termos relativos (porcentagem do orçamento). O cobertor é curto, então devemos optar de onde vamos tirar.


5- Como fazer que a educação chegue a 100% dos brasileiros?
Comte – Quando ela for realmente prioridade. Quando as diferentes esferas do governo conseguirem atuar de forma articulada. Os estados precisam implantar seus sistemas de ensino, definindo metas claras e estimulando os municípios a fazerem o mesmo.

A área da educação é uma potencial absorvedora de mão-de-obra. Além de possibilitar que o indivíduo reflita sobre si, sobre sua realidade e se torne mão-de-obra qualificada, precisamos de professores! Podemos contratar esta pessoa. O Brasil vai precisar de professores, de muitos professores, pedagogos, inspetores de alunos, merendeiros, diretores de escola, autores de material didático, etc.

Chegamos no outro ponto deste tripé, o das oportunidades, gerar empregos e criar consuidores. Fica pra próxima.


@cajuínas

Um comentário:

  1. Pois é, Paulo, todos nós estamos bem cientes disso. Todo este texto serviu mais mesmo para a gente fazer um reconhecimento de algo já bem sabido. A questão é: na grande disputa do cabo de guerra entre políticos dedicados e sinceros, e políticos mafiosos, totalmente comprometidos coma corrupção neste país.
    É difícil ter esperança? Bom, para a maior parte da população sem história, sem conhecimentos do passado brasileiro, é fácil; mas para quem conhece bem a história política e social brasileira, fica claro o crescimento do Brasil entre "jogadas" políticas e interesses que acolhem ideais de grandes investidores, "senhores feudais" e demais agregados ao poderia financeiro.
    Me pergunto: que tipo de solução para isso em primeiro lugar? Eu realmente me considero estúpido e assumo que sinceramente não sei.

    ResponderExcluir