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quinta-feira, 3 de junho de 2010

Tradição oral e sua poética


Início do filme "Histórias". Trata da tradição oral e temos dois contadores de histórias brasileiros, dois griots africanos e um datka Macro-jê (o equivalente ao griot) discutindo o assunto.






@cajuínas
Paulo Siqueira

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Trecho de Cajuínas - Chico Bala

Chico bala sustentou tiroteio por mais de quatro dias contra a volante do cabo Malaquias. Corria
pelo mato e atirava, assobiava, mangava, ria e gritava:
Dá fogo macacada!
Aprumem a pontaria,
aqui quem tá é Chico Bala,
vem me buscar na mata, Malaquias!
Sangue do Pereiras, era questão com o governo havia Chico Bala. Só Deus, Padre Cícero, Sinhô
Pereira arrespeitava. Lampião, desse não gostava. Sua Pereira valentia era por causa justa,
Carvalho, governo, vergonha, maldade, alma cebosa ou covardia, não a covardia do medo, mas
do forte contra o fraco. Não dava o sangue por roubar o povo,
assustar pai de família,
desonrar moça,
maldade por alegria.
Quando Sinhô largou a guerra por determinação do Padre Cícero, deixou a Lampião o comando
do cangaço. Chico Bala foi-se embora, não quis servir ao Virgolino.
Calçou as alpergatas e as perneiras,
os bornais por cima da cartucheira,
121 tiros de fuzil,
mais a pistola Browning e a peixeira,
cruzou a cinta e pendurou a borracha,
as luvas, os anéis,
no pescoço o lenço de seda,
o chapéu quebrado,
os sinais de Salomão e as estrelas,
as medalhas, moedas de ouro,
a barbela e a testeira.
Em marcha Chico Bala
- a carabina 44 na bandoleira,
a arma predileta -
como a de Sinhô Pereira.
Gritou todo o povo,
correu a criançada,
lá vem Chico Bala,
Lá vem Chico Bala dos Pereiras.
Foge macacada,
hoje deita a madeira.
Pau é pau Pereira,
esconde a patente tenente,
some com a farda soldadesca,
soltem os presos, abram a porta da cadeia.
Lá vem Chico Bala.
Corre Carvalho,
vai ter barulho na feira.
Mataram na tocaia,
lavrador, parente de Chico.
Mataram na covardia,
foi jagunço do Zé Limeira,
o coronel rasgou a cerca,
tomou do bocado,
pro muito que tinha,
deixando na miséria,
a viúva e a família.
Chico Bala veio cobrar,
dar recado daquela judiaria.
Avisaram na delegacia,
mataram o coronel Zé Limeira,
tacaram fogo na moradia.
Foi Chico Bala dos Pereiras,
tá na cidade agora,
tomando cachaça na vendinha.
Foi um aborrecimento,
pois naquele forno de zinco quente,
curtia sua lombeira,
deitado em sua rede,
o cabo Malaquias.
Juntou a sua tropa, a mais velente do sertão, eram Círilo, Pescador, Vírgilio, Zacarias, Alberto,
Fura-Lata, Gato-branco, Isaias, Gugu, Pirambeira, Bale, Borogodó, Tiro-Certo, Moreno,
Varejeira, Nego Eusébio, aquele que no raiar do dia, algum dia, vai matar Besouro Preto com
faca de ticum, onde metal não fura mandinga de Nega Avó. Saiu a volante em diligência: povo
de bem vá pra casa, leve junto suas crianças, a volante do Cabo Malaquias chegou! Vai correr
sangue no sertão!
Canta a carabina de Chico Bala,
já se vai pelo quarto dia.
A refrega é danada,
a que se dizer,
da volante do cabo Malaquias:
sustentou fogo na mata,
mostrou sua valentia.
Mangava-lhes Chico Bala,
era noite ou de dia.
Mas por mais que lutasse Chico Bala,
quando ela quer, não tem como ir contra a polícia.
Acudiu em reforço ao Cabo Malaquias,
sargento, capitão, tenente, major,
coronel, tropa, metralhadora, artilharia.
Zombava da morte Chico Bala,
mas ela o acharia
pelo tiro certeiro de Nego Eusébio.
Lá se foi o cangaceiro,
o que não aceitava covardia.
Caiu atirando,
morreu como queria,
ao enegrecer os olhos,
sorriu de alegria,
preferia morrer à bala,
a envelhecer na monotonia.
Seu nome Chico Bala,
alguém dele lembraria,
cantariam os repentistas,
contariam os velhos nas praças,
ouviria com atenção a criançada,
seria brincadeira da meninada,
suspiro da mulherada,
mais de dez,
naquela noite choraria.
Em seu enterro até briga haveria, pra saber qual viúva, o seu cadáver carpiria. Lá se foi Chico
Bala pro além, talvez ao inferno desceria, mas como sempre foi homem de justiça, Há de Deus
Dar por isso, esse seu sofrimento guerreiro. Nunca matou quem não merecesse, ou em refrega
não estivesse. Nunca levantou a mão pra velho, fraco ou mulher. Sempre respeitou o pai de
família, o alheio, nunca roubou ou pediu resgate por filho de ninguém. Nunca desonrou mulher
nenhuma, nem nunca fez covardia. O povo nunca lhe teve medo, por contrário sempre o
escondia da polícia, que surrava a quem fosse alcoviteiro, suspeito, ou por cisma. Lutou pelo
sertanejo, pelos Pereiras e pela justiça. Mas morreu como morre todo aquele que vai contra o
governo, na república ou na monarquia. Todo o povo reza pra que se alumie o seu caminho pro
céu, que lá São Pedro lhe dê acolhida.
- Vá com Deus Chico Bala, leve nossa oração. - Sinhô Pereira e Luiz Padre deixaram correr
uma lágrima, beberam ao defunto. - Adeus velho amigo, braço guerreiro. Do céu nos alumine
agora que buscamos a paz, a qual nunca quiseste, pois não podia haver trégua enquanto no
mundo houvesse injustiça.
Mas aconteceu que São Pedro não abriu a porta de céu e disse a Chico Bala umas tolices.
Chico se arreminou, e o poeta Zé Da luz, que lá esperava paciente o que se cêsse, insistiu para
que ele, Chico Bala se arresolvêsse. Pois que Chico Bala esfumaçou as porteiras do paraíso
e São Pedro vendo isso,
correu a Padre Cícero.
Este ordenou e Chico obedeceu,
pois pedido do santo padre,
sempre, todo cangaceiro acolheu.
Desceu para o inferno
onde estavam todos os carvalhos que matou,
terra onde seus inimigos
o esperavam com ardor.
Pois o diabo deu que Chico Bala não entrasse armado.
Onde se viu entrar pelado em lugar cheio de Carvalho?
Puxou Chico Bala da peixeira,
furou o bucho do inferno,
Zé da Luz lhe deu valor,
por ali fugiu toda a capetada,
pela terra se espalhou.
Hoje, esse mundo de Deus
tem capirôto pra tudo quanto é lado.
Ele, apesar do que Prometeu,
à terra nunca mais Desceu,
e o diabo corre à galope, faz a festa,
assim aconteceu.
Chico Bala voltou pro céu com Zé da Luz,
mas como lá não pode entrar,
basta começar a trovejar,
pra se saber que Chico Bala
botou sua carabina pra gritar.
- Acuda São Pedro, acuda Padre Cícero,
guardem bem essa porteira,
quem queima fogo no céu,
é Chico Bala dos Pereiras.




@cajuínas

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Balanço do ano 2009.



Se o Lula fez, o Obama fez, o Márcio fez (olha a companhia que você tá, hein?), achei por bem do tom, fazer o meu.

Não irei pelas análises políticas ou econômicas por não ser gabaritado, por já as exibi-las muitos e principalmente porque não quero. Mas farei um balanço pessoal meu e de amigos.

Se a mídia contou o ano pelo re-arranjo da economia pós-crise, pelas crises no Irã, Venezuela, Coréia do Norte, Olimpíadas de 2016, COP-15, IPI reduzido, campanha eleitoral antecipada; meus amigos, por seu outro lado assim refletiram sobre 2009:

Pedro contou o ano pelo número de mulheres que conquistou. Foram muitas (não me atrevo a colocar o número aqui) e ele pediu pra agradecer a todas pelos belos momentos de carinho, afeto e alegria que lhe proporcionaram. Pedro amigo, crie juízo e que em 2010 se faça pela qualidade. Sejas feliz.

Luís se apaixonou três vezes, uma loura, uma japonesa e uma mulata. Três mulheres lindas e admiráveis que foram suas companheiras queridas na eternidade que é o breve instante de uma paixão e muito lhe ajudaram na busca por ser um homem melhor. Luís, quem nunca amou não merece perdão, já dizia o poeta. Ame sem medo, pois paixão sem sofrer não é paixão, é como querer viver em vão.

Júlio iniciou seu blog e escreveu mais de cem artigos lidos por mais de dez mil pessoas e que renderam um lucro de 1,25 dólares. Felicidades Júlio, continue firme nesse oceano de informações que é a internet.

Marcelo começou uma faculdade, creio que sua terceira e passou com boas notas em todas as matérias. Querido espantalho, que venha um bom diploma e muita sabedoria.

Alvinho tá fazendo boxe e jiu-jitsu e já quebrou um dedo. Isso aí Alvinho, a vida tem seus pedágios.

Cléber fez boas amizades e espera poder ajudar de alguma maneira. Cléber, nossa importância está naquilo que fazemos para o mundo, e não no que ele nos dá. Um 2010 de muitas importâncias pra você.




Meus pais receberam o reconhecimento pela comissão de anistia de sua luta por toda a sua vida, seu sacrifício pelo país e pela democracia. Obrigado por tudo e feliz ano novo.

Minha irmã foi assaltada duas vezes à mão armada e enfrenta problemas na sua empresa. Crise. Que esse 2010 traga muita paz e prosperidade.

Maria Paula, minha sobrinha levada, terminou o pré-escolar e ganhou do tio muitas histórias loucas, alguns passeios ao Jardim Botânico, Parque Laje, Parque do Flamengo, teatros, cinema, cinema 3d, patins, 3 bonecas, um pula-pula, um patinete, um cavalinho de balanço. Ficou doente algumas vezes e vem enfrentando o divórcio dos pais. É MP, o mundo não é para amadores, vai se acostumando. Que Deus te proteja nessa aventura indecifrável que é a vida.

A Ópera Prima, empresa onde eu trabalho teve um ano excepcional, dezenas de comerciais, programas políticos, institucionais, participou de vários longas-metragens, entre os quais VIPS da O2, Os Mercenários (Silvester Stallone), Lula, Filho do Brasil (desejamos ao Fábio Barreto plena recuperação e saúde.), videoclipes, peças de teatro; participou de várias concorrências, ganhou algumas, perdeu outras. Criou a Ourtv, empresa de tv indoor, e a divisão de games. Foi indicada para o prêmio TOP Excelência Empresarial de 2009, e foi acusada por adversários políticos de um de seus sócios de não existir e ser uma empresa de fachada, o que é estranho já que se não existisse não teria realizado tudo o que foi dito acima. Um ótimo 2010 para todo o pessoal e que esta equipe maravilhosa continue firme e cada vez mais eficiente.

O livro Cajuínas aparentemente se concluiu, foi lançado em e-book aqui no blog e vai se auto-revisar em 2010 para se lançar em papel enquanto essa possibilidade ainda está na mesa. Seus personagens já saíram das prateleiras da imensa biblioteca do livros nunca escritos, lá no reino de Morpheus, e garantiram sua existência. Neco Valões em sua busca Luzia, Henrique Anastácio na luta em pagar sua dívida centenária, o saci cajuíno pulando pela história do Brasil. joão cor da noite do sorriso de açúcar e o olhar café. Sorriso doce e o olhar amargo de quem ama,  entre o nada e o lugar algum, cruzando o caminho de quem vai como quem vem. Carla Maria em sua jornada ao inferno. Zorba, o marinheiro Grego navegando na precisão da vida. Nina bebendo o cálice amargo da vingança. Clara em sua beleza porcelana, Helena em sua sensualidade canela. Assim essas vidas cajuínas em suas guerras e andanças pela vida e pela história do Brasil, já não me acompanham mais enquanto imaginação própria, mas largam o ninho e ganham mundo deixando saudades.


Isso aí, um feliz 2010 para todos, muita paz, amor, afeto, sucesso, dinheiro e felicidade.


E mais, o Flamengo  é Hexacampeão brasileiro de futebol! MENGOOOOO!!!!!!







@cajuínas

domingo, 15 de novembro de 2009

Sobre o Cajuínas, um breve argumento metido à besta.

Muitos me perguntam sobre o que trata o livro Cajuínas. Pergunta justa, aí vai.




Este livro é o resultado de um trabalho de sete anos de pesquisa e criação. Cajuínas é um livro de contos entrecortados e interrelacionados, sobre personagens reais e mitológicos que povoam a história do Brasil. Tanto a história factual quanto a lendária.


Cajuínas recebeu forte influência do meu trabalho na direção do filme "Histórias". É um filho da tradição oral com a literatura brasileira, onde resgato histórias contadas por meus avós e pais, dos livros de histórias e de narrações de contadores com quem tive contato.


Em Cajuínas me permiti brincar tanto com a linguagem narrativa, imprimindo um ritmo musical xoteado ao texto, permeando a prosa com a rima; como repensei a própria língua, reformulando a função das palavras na frase, a locução verbal e até mesmo, pasmem, a ortografia (como diria meu narrador: Por nada, até que não. Mas achei, no abuso, uma sua graça) .


Ao narrar histórias inspiradas em fatos reais, ocorridos a quem contou, ou presenciados por estes, tanto quanto os fatos registrados nos anais históricos do país, não tive o menor compromisso de relata-los como os ouvi, li, ou conheci, mas, pelo contrário, me permiti reinventá-los, reinventando assim, a mim mesmo.


Espero que gostem. 


Para baixar clique aqui. 0800 galera!

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Cajuínas



Agora o livro Cajuínas pode ser baixado gratuitamente no blog. Coloquei dois links, um acima dos post e outro ao lado, ou pode clicar no nome com hyperlink aqui no parágrafo e ao final do post.

Segue o primeiro trecho do livro.



Cajuínas
(ISBN 388.593 livro 722 folha 253 janeiro de 2009 novo registro: numero: 445.489 Livro: 836 Folha:149)



A SAGA DE NECO VALÕES, HENRIQUE ANASTÁCIO E UM SACI CAJUÍNO PULANDO PELA HISTÓRIA DO BRASIL.


AS ANDANÇAS E VIDAS DE PERSONAGENS HISTÓRICOS E LENDÁRIOS QUE CONSTRUÍRAM A NAÇÃO BRASILEIRA.



“Existirmos, a que será que se destina?”
Caetano Veloso – trecho da música Cajuína.


Genésio... viveu até que morreu.

Neco Valões vinha fugindo, junto com mais três Pereiras, da milícia. Fez uma breve parada antes do anoitecer, contou um segredo à orelha de uma acajuíba, em seguida, ao invés de deitar acampamento, levantou poeira e seguiu em sua fuga. Noite adentro um saci completou sua gestação e dali, daquela mesma orelha, nasceu, saiu pulando a correr mundo, levando o segredo consigo.

Naqueles tempos Deus e todos Eles não desciam à Terra, logo, os demônios corriam a galope por todos os cantos, que contam eram quatro. Mares, estes eram sete. Havia muitas guerras, pestes e tantas outras coisas as quais sempre há.

Os anos se passaram e muitas coisas mudaram,
outras nem tanto.
Muitas lembranças viraram pó
junto com aqueles que as carregavam.
Muitos se foram. Outros chegaram,
poucos à Deus,
mais,
os capetas levaram.

Para baixar clique no nome: Cajuínas



@cajuínas