Casamento Silencioso (Nunta Muta) é um bom filme. Uma comédia que mistura costumes, situações, caracteres, época e tragédia. A construção dos personagens lembra uma companhia de teatro amadora, onde tem que ter papel pra todo mundo e se criam personagens pra dar e vender. Mas na verdade o cinema romeno não segue o padrão estadunidense, nem deveria, e com suas experiências próprias nos brinda com outra perspectiva cinematográfica.
Uma equipe de tv vai a um antigo vilarejo investigar fenômenos paranormais. Para explicá-los, voltamos no tempo e acompanhamos uma semana na vida deste vilarejo, onde se realiza um casamento, bem no dia da morte do Camarada Stalin. Festividades são proibidas, mas como os vilãos (os que vivem no vilarejo) insistem em resistir, todos os homens são mortos, assim como as mulheres estupradas e o vilarejo saqueado. É removido para dar lugar a uma fábrica. Situação trágica, mas através da caracterização dos personagens, da construção de situações, tanto do dia a dia como as oníricas, e através de referências, cria-se uma atmosfera cômica. Mesmo calcando-se na construção dos personagens, utiliza bem os ganchos dramáticos (acontecimentos, ou cenas, planos, falas, etc, que se ligam com cenas mais à frente no filme e concluem alguma trama- a chuva, a mancha no pescoço de Mara, a fantasma vestida de noiva, os risos, um fraseado musical ou sonoplastia entre outros).
Os personagens são muito engraçados e o filme percorre todo um espectro de arquétipos, temos: os jovens noivos, o anão, o menino (a testemunha que narra a história), o pai da noiva, o pai do noivo, a mãe da noiva, o cientista alucinado, o louco, o comunista, os bufões (o grupo de militantes do partido local), a fada (a menina que é estuprada e assassinada, a qual vai se tornar um vampiro - mulo, na acepção cigana), o padre guloso, os ciganos, os malvados (os russos), os bêbados do bar, o dono do bar, a prostituta, tem até o circo e suas magias. Os personagens vivem situações cômicas, e mascaram-se, de acordo com o momento, de aspectos bons e maus (exceto os russos, esses são terríveis). As interpretações são muito engraçadas, mas como são em romeno fica complicado uma análise mais profunda. Observa-se que deve ter sido muito divertido para os atores, e há momentos de visível improvisação, ou uso pela direção de características próprias de cada ator na construção da cena (por exemplo as brigas no bar).
Aproveitando o melhor da cada um. Soube ser sutil. Quando se trata de denunciar o stalinismo, sutileza é uma qualidade rara. Conduziu muito bem a fotografia e a edição, amarrou o roteiro e produziu belas cenas, como a em que o casal transa sobre um monte de milho e a moça vai sendo coberta pelos grãos. Outro exemplo é a homenagem ao cinema cômico mudo na cena em que se vai apresentar um filme (a patetice dos militantes do partido é muito engraçada). Outro mérito da direção, soube utilizar o silêncio muito bem, na cena do casamento consegue segurar a platéia por uns dez minutos ou mais em quase silêncio total. Além de que, em todo o filme consegue aproveitar os olhares de contracenação, mesmo em momentos de gritaria.
A trilha sonora marca muito bem a edição, com ritmo ou usando fraseados musicais para dialogar com os cortes (como o violoncelo para uma pan no anoitecer que antecede a festa). A sonoplastia não só ambienta com os ruídos rurais, como também se coloca dramaticamente, os sons da máquina fotográfica ao invés de flashes são estampidos graves, há momentos de silêncio em que sons de latidos entre outros marcam a comédia ou a tragédia da situação. Além de antecipar em vários momentos, por alguns fotogramas (um segundo é constituído de 24 fotogramas no cinema) o corte da edição: o som dos pássaros que antecipa a passagem de tempo, um sino antes do enterro, uma trompa cigana antes da festa de casamento...
A fotografia marca bem a diferença entre presente (tons frios) e passado (tons quentes). Se utiliza de recursos que estão um pouco fora de moda, como filtros de suavização (a primeira cena em que aparecem o anão e o menino há uma sutil névoa branca). Procura se fixar em tripés e se utiliza também, para marcar a diferença entre o tempo atual e o antigo, de uma granulação diferenciada, mais marcante nas cenas do passado, assim como a luz do sol, muito mais viva, permitindo uma maior utilização da contra-luz.
O stalinismo teve dessas aberrações, onde um capitão russo podia proibir uma cidade inteira de rir, festejar e até mesmo enterrar seus mortos. Mas a resistência se faz silenciosa, na cena patética da celebração do casamento, todos estão lá, do padre à prostituta. E quando não suportam mais a opressão, celebram sua resistência em alto e bom som. Mesmo sendo devastados, o fim da tirania se representa no presente, onde apesar da chuva (chove na cena da repressão russa), das marcas nos sobreviventes (a mancha no pescoço de Mara), dos fantasmas do passado (o mulo de Smaranda, que vaga pela fábrica abandonada), agora todos podem rir (o riso fora proibido - no filme- pelo governo comunista por conta do luto à morte de Stalin, o que é simbólico no filme).
O roteiro junta situações desconexas.
Uma equipe de tv vai a um antigo vilarejo investigar fenômenos paranormais. Para explicá-los, voltamos no tempo e acompanhamos uma semana na vida deste vilarejo, onde se realiza um casamento, bem no dia da morte do Camarada Stalin. Festividades são proibidas, mas como os vilãos (os que vivem no vilarejo) insistem em resistir, todos os homens são mortos, assim como as mulheres estupradas e o vilarejo saqueado. É removido para dar lugar a uma fábrica. Situação trágica, mas através da caracterização dos personagens, da construção de situações, tanto do dia a dia como as oníricas, e através de referências, cria-se uma atmosfera cômica. Mesmo calcando-se na construção dos personagens, utiliza bem os ganchos dramáticos (acontecimentos, ou cenas, planos, falas, etc, que se ligam com cenas mais à frente no filme e concluem alguma trama- a chuva, a mancha no pescoço de Mara, a fantasma vestida de noiva, os risos, um fraseado musical ou sonoplastia entre outros).
Os personagens são muito engraçados e o filme percorre todo um espectro de arquétipos, temos: os jovens noivos, o anão, o menino (a testemunha que narra a história), o pai da noiva, o pai do noivo, a mãe da noiva, o cientista alucinado, o louco, o comunista, os bufões (o grupo de militantes do partido local), a fada (a menina que é estuprada e assassinada, a qual vai se tornar um vampiro - mulo, na acepção cigana), o padre guloso, os ciganos, os malvados (os russos), os bêbados do bar, o dono do bar, a prostituta, tem até o circo e suas magias. Os personagens vivem situações cômicas, e mascaram-se, de acordo com o momento, de aspectos bons e maus (exceto os russos, esses são terríveis). As interpretações são muito engraçadas, mas como são em romeno fica complicado uma análise mais profunda. Observa-se que deve ter sido muito divertido para os atores, e há momentos de visível improvisação, ou uso pela direção de características próprias de cada ator na construção da cena (por exemplo as brigas no bar).
A direção soube conduzir essa imensa trupe de atores.
Aproveitando o melhor da cada um. Soube ser sutil. Quando se trata de denunciar o stalinismo, sutileza é uma qualidade rara. Conduziu muito bem a fotografia e a edição, amarrou o roteiro e produziu belas cenas, como a em que o casal transa sobre um monte de milho e a moça vai sendo coberta pelos grãos. Outro exemplo é a homenagem ao cinema cômico mudo na cena em que se vai apresentar um filme (a patetice dos militantes do partido é muito engraçada). Outro mérito da direção, soube utilizar o silêncio muito bem, na cena do casamento consegue segurar a platéia por uns dez minutos ou mais em quase silêncio total. Além de que, em todo o filme consegue aproveitar os olhares de contracenação, mesmo em momentos de gritaria.
Edição e sonorização muito bem entrosados.
A trilha sonora marca muito bem a edição, com ritmo ou usando fraseados musicais para dialogar com os cortes (como o violoncelo para uma pan no anoitecer que antecede a festa). A sonoplastia não só ambienta com os ruídos rurais, como também se coloca dramaticamente, os sons da máquina fotográfica ao invés de flashes são estampidos graves, há momentos de silêncio em que sons de latidos entre outros marcam a comédia ou a tragédia da situação. Além de antecipar em vários momentos, por alguns fotogramas (um segundo é constituído de 24 fotogramas no cinema) o corte da edição: o som dos pássaros que antecipa a passagem de tempo, um sino antes do enterro, uma trompa cigana antes da festa de casamento...
A fotografia marca bem a diferença entre presente (tons frios) e passado (tons quentes). Se utiliza de recursos que estão um pouco fora de moda, como filtros de suavização (a primeira cena em que aparecem o anão e o menino há uma sutil névoa branca). Procura se fixar em tripés e se utiliza também, para marcar a diferença entre o tempo atual e o antigo, de uma granulação diferenciada, mais marcante nas cenas do passado, assim como a luz do sol, muito mais viva, permitindo uma maior utilização da contra-luz.
O stalinismo teve dessas aberrações, onde um capitão russo podia proibir uma cidade inteira de rir, festejar e até mesmo enterrar seus mortos. Mas a resistência se faz silenciosa, na cena patética da celebração do casamento, todos estão lá, do padre à prostituta. E quando não suportam mais a opressão, celebram sua resistência em alto e bom som. Mesmo sendo devastados, o fim da tirania se representa no presente, onde apesar da chuva (chove na cena da repressão russa), das marcas nos sobreviventes (a mancha no pescoço de Mara), dos fantasmas do passado (o mulo de Smaranda, que vaga pela fábrica abandonada), agora todos podem rir (o riso fora proibido - no filme- pelo governo comunista por conta do luto à morte de Stalin, o que é simbólico no filme).
Acabei de ler teu post e como vc é detalhista! Observar detalhes e guardá-los por muito tempo é uma dificuldade para mim...
ResponderExcluirNão perde tempo mesmo e vá ao CCBB. A Virada Russa está imperdível de fato. Bjoks!