quarta-feira, 8 de abril de 2009

Frost/Nixon


Grata surpresa esse filme de Ron Howard. Interessante observar duas atuações de composição de personagem, tanto Frank Langella, que em nada lembra aqueles Zorro ou Drácula afetados, e Michael Sheen, o qual nem reconheci como o Lobisomen/Conan dessa bobagem de Anjos da Noite (Rise of the lycans).

Langella-Nixon construiu um personagem espetacular, criou um andar, uma postura corporal, sua maneira de falar, a maquiagem, o cabelo, e principalmente o olhar. Este olhar quase o traiu, e aí me pareceu interferência da direção, na cena em que na primeira pergunta, sobre o vietnã, se arregala e semi-cerra, forçando um pouco mais que o necessário a surpresa, e nesse momento, esquecemos do personagem e lembramos que o ator está ali.

Sheen-Frost começa o filme com um sorriso canastrão sempre presente, mesmo em momentos de desconforto, ou, e vale a pena obsevar a sutil diferença em seu sorriso na última cena com Nixon (lembrando, talvez propositalmente a Ilha da Fantasia- Fantasy Islnad, com Nixon como Sr.Roarke e o assessor como Tatto, curtindo a aposentadoria/exílio), onde o falso sorriso dá lugar ao verdadeiro, de um personagem que realmente gosta de "seu adversário", apesar da ironia do presente, um sapato italiano(é preciso ver para entender).



Roteiro e direção

Interessantíssimos, constroem um herói (Frost) cínico, no início superficial, fraco, ambicioso e perdido, que ao longo do filme vai ganhando consistência e força, até se tornar a voz do povo que enfrenta Nixon, e todo o abuso de poder e ameaça à democracia que ele representa.

Mas é em Nixon que o filme encontra sua força máxima. O filme brinca com nossos sentimentos de simpatia e antipatia com o personagem, apresentando um ser humano em todos os seus aspectos: forte, frágil, esperto, perdido, ambicioso, amoroso com a família, admirável, repulsivo. A todo momento, somos convidados a julgá-lo para ora absolvê-lo, ora condená-lo, até que ao fim, quando sua expressão derrotada, olhar caído em close up através do monitor da televisão, precebemos que não se trata somente de julgar o homem, mas sim, defender a democracia e os princípios que a garantem.



Pra quem gosta de política

Um prazer a mais, em certo momento Nixon cita seu debate contra Kennedy, onde se observou pela primeira vez o efeito da "telegenia", ou seja, como o candidato é percebido pelo público da tv, ou como ela imprime sua mensagem, e ele conta que perdeu ali a eleição. Além de toda a preparação psicológica para a entrevista, os jogos, ou truques para fugir de determinadas perguntas e respondê-las em seus termos.

Edição ágil, sem ser a neurose dos tempos de videoclip, atuações maravilhosas e fotografia corretíssima, alterna a linguagem jornalísitca da época com a cinematográfica, tons frios, nos levando visualmente de volta aos anos 70, com suas cores e luzes, em contraste com os tons quentes dos momentos de derrota ou drama pessoal dos personagens.

Quanto ao que Nixon fez bem lembra o que tem ocorrido no Brasil hoje em dia, com o uso da Polícia Federal, do minsitério público, dos mensalões e etc, para empanelar a oposição e trazer para o guarda-chuva do governo os aliados. Lembrei-me de Figueiredo: Aos amigos tudo, aos inimigos a lei.

Valeu.

@cajuínas

6 comentários:

  1. Uma honra pra mim ser o primeiro a comentar neste teu blog. Gostei do texto e, mais ainda, da sua iniciativa de escrever. Tenho meu blog (www.euseicozinhar.blogspot.com), sou viciado nele, e sei quão árdua é a tarefa de publicar textos e mais textos; ainda mais quando temos seguidores e críticos ferozes. Mas tudo isso faz parte, até porque, nos tornamos vitrines de nós mesmos.
    Um grande abraço e vida longa ao Cajuínas!

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  2. Prezado Paulo:

    A tua análise do filme é sensacional. Um obra despretenciosa, que foi realizada com cuidado e esmero pelo diretor e pelos protagonistas, e sucita toda uma discussão sobre a relação do estado com o indivíduo nas chamadas democracias liberais.
    Parabéns e espero que seja a primeira de muitas.

    Adão Cândido

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  3. Relamente Paulo, seu trabalho é de grande competencia, e realmente deve ser levado a frente as indformações que venham apenas acrescentar. Você está mais do que certo de pedir para lerem com análise seu blog. Abraços e vamos levar a diante esse trabalho...

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  4. Paulo, adorei a sua iniciativa! Gostei da análise, sensível e explora pontos que raramente são observados em outros blogs desse tipo. Agora vai ser bem mais fácil escolher bons filmes para ver!
    Já está entre os meus favoritos...

    Abraços e bom trabalho!

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  5. Amigos, obrigado pelos comentários. Estou ainda meio extasiado com esse negócio de blog. Não sei qual caminho seguir, ou se há um caminho a seguir... Abs

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  6. Fiquei com vontade de ver... Provavelmente não me escapará às órbitas oculares, nem ao senso crítico de minha mente febril.
    Rs.
    Abs.

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