quarta-feira, 10 de junho de 2009

O Vampiro Tadeu - Fragmento do livro Cajuínas


Lá perto da Borborema, na cidade noite em serena, quando canta a siriema, colhe a morte tanta criança pequena, que o funerário já fazia o caixão na medida da inocência. Da barriga inchada, pés no chão, de cada cinco, quatro não vivem, não. Mas dessa vez não é uma criança que se vela na capela. Morreu Tadeu. Tão ainda moço, tão querido, morreu de congestão. Por sua mulher dedicada, foi achado na cozinha ao chão. Chora agora em dedicação, na tristeza viúva, choram mãe, pai, irmão. Tão os amigos, os parentes, foi até mesmo uivar seu cão, Jubá, pastor tão valente, brigador de onça, cobra, solidão.

O velório se vela no lamento, no carpir, há tanta emoção. Era querido Tadeu, não duvide disso, não. Mas eis que em meio à romaria, do povo que todo ia à capela dar seu adeus, seu conforto à viúva, sua vela e oração, levanta Tadeu de dentro do caixão. Estranham aquilo, espantam todos, correm muitos, alguns ficam, então. A viúva desmaia, a mãe se ajoelha, o pai pede perdão, Jubá satisfação. Mas tava vivo Tadeu, não morrera não. Cataléptico que era, parecia que se ia, mas era ainda um entre os que vivos estão. Acode o padre, chamam polícia e o médico do plantão. A explicação como se dera, nem a todos deu satisfação. Diz ainda o povo de lá, que Tadeu é um vampiro, de dia anda como gente vivente, come, ri, trabalha. Mas na madrugada, quando a lua não se dá por nada, o vampiro corre campo chupando cabra, bêbado caído, mulher de vida safada, ou criança que não foi batizada.

Assim ficou o vampiro Tadeu, aquele que se foi mas não morreu. O chupa-cabra da Borborema, onde canta a siriema, onde a morte prefere criança pequena. Onde a vida não vale a pena, ou se vale dura apenas, a chama que à vela queima. Lá leva vida Tadeu, se a morte não o venceu, diz o povo que ao diabo se corrompeu, sua alma a vendeu. Agora por mês, tem sua cota de sangue a pagar pelo que deveria ser do seu. É por isso diz a gente toda, que Deus os Esqueceu. Deixou suas crianças à mercê do vampiro Tadeu. Enquanto aquele povo não for puro e decente, vai morrer toda gente, as crianças vão na frente. Não se salvam nem os crentes na fé do Deus Vivente. A cada dia um morreu, todos lembram logo do vampiro, o Tadeu.



@cajuínas

Um comentário:

  1. Este é um trecho do teu livro, né? Isso é teatro e me lembrou Suassuna, talvez pelas rimas, não sei. Mas que é teatro, é.
    Abs.

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