Imaginem o que vai ser as 70 mil testemunhas desse momento mágico no Maracanã no domingo. 70 mil porta-vozes de 33 milhões de corações batendo em uníssono.
O que é essa alegria angustiante do futebol, onde por 90 minutos, milhões se calarão juntos e gritarão juntos, na dor ou na alegria, na raiva necessária onde podemos esquecer o ônibus lotado do dia-a-dia, o patrão pedante, o cliente irritante, o sol de maçarico, o grito da britadeira, do trânsito, da mulher, dos filhos, da vida.
E a vida rubro-negra? Em 17 anos de espera pra gritar de novo, É CAMPEÃO BRASILEIRO!!! Gritar pra quem, que não seja outro que o Andrade, a antítese da era Dunga, de resultados, força e pouca alegria em assistir um jogo? Andrade foi o último grande cabeça-de-área, o último gênio da posição. Criticado por trazer de volta o futebol dos anos 80, ingênuo? Pode ser, mas muito mais emocionante. E o que queremos? Emoção, drible, irresponsabilidade garrinchiana, leveza Pelé, alegria Zico.
Outros tempos, outra emoção, um campeonato que embora mais justo, não tem a tensão da final, onde o pior derruba o favorito, onde o time com melhor campanha pode perder tudo. Mas é disso o futebol, dessa alegria tensa, angustiada, sofrida, gritada. Grito da torcida, do gol, do campeão. Choro do derrotado. Gaitisse do dia seguinte e assim caminha o folclore de quem diz não ser o futebol esporte e sim arte. Sentido, bem cá que faz, afinal qualquer esporte o assim é pra quem o pratica, pra quem o assiste, é entretenimento.
Por entretenimento assim o ser, assim deveria ser tratado e que a beleza e o prazer de quem o assiste fosse levado a sério. Justo, pois é quem paga o show.Show dos astros da bola, cada vez mais raros e caçados em campo em nome da eficiência tática (leia-se porrada no craque).
Mas nessa semana o que temos, são 33 milhões em ação, pra frente Flamengo do meu coração!
33 milhões de surdos batendo em peitos rubro-negros,
33 milhões de esperanças, medo.
66 milhões de olhos e ouvidos atentos às 22 chuteiras dos guerreiros da nação,
onde hoje o artista da bola da lugar ao sangue da raça.
O gramado consagrado do Maraca (o qual querem impludir para modernizar - ou seja, fazer um shopping, estacionamento, etc.) onde antigos rivais vão fazer história. Cabe aos que dela serão lembrados, ou lamentavelmente quererem ser esquecidos, como os quase campeões de 1902, 03, 04... até os dias de hoje.
Aos 33 milhões de nervosismos, fazer sua parte, torcer.
@cajuínas