segunda-feira, 30 de novembro de 2009

33 milhões em ação!





Imaginem o que vai ser as 70 mil testemunhas desse momento mágico no Maracanã no domingo. 70 mil porta-vozes de 33 milhões de corações batendo em uníssono.


O que é essa alegria angustiante do futebol, onde por 90 minutos, milhões se calarão juntos e gritarão juntos, na dor ou na alegria, na raiva necessária onde podemos esquecer o ônibus lotado do dia-a-dia, o patrão pedante, o cliente irritante, o sol de maçarico, o grito da britadeira, do trânsito, da mulher, dos filhos, da vida.



E a vida rubro-negra? Em 17 anos de espera pra gritar de novo, É CAMPEÃO BRASILEIRO!!! Gritar pra quem, que não seja outro que o Andrade, a antítese da era Dunga, de resultados, força e pouca alegria em assistir um jogo? Andrade foi o último grande cabeça-de-área, o último gênio da posição. Criticado por trazer de volta o futebol dos anos 80, ingênuo? Pode ser, mas muito mais emocionante. E o que queremos? Emoção, drible, irresponsabilidade garrinchiana, leveza Pelé, alegria Zico.

Outros tempos, outra emoção, um campeonato que embora mais justo, não tem a tensão da final, onde o pior derruba o favorito, onde o time com melhor campanha pode perder tudo. Mas é disso o futebol, dessa alegria tensa, angustiada, sofrida, gritada. Grito da torcida, do gol, do campeão. Choro do derrotado. Gaitisse do dia seguinte e assim caminha o folclore de quem diz não ser o futebol esporte e sim arte. Sentido, bem cá que faz, afinal qualquer esporte o assim é pra quem o pratica, pra quem o assiste, é entretenimento.

Por entretenimento assim o ser, assim deveria ser tratado e que a beleza e o prazer de quem o assiste fosse levado a sério. Justo, pois é quem paga o show.Show dos astros da bola, cada vez mais raros e caçados em campo em nome da eficiência tática (leia-se porrada no craque).



Mas nessa semana o que temos, são 33 milhões em ação, pra frente Flamengo do meu coração!

33 milhões de surdos batendo em peitos rubro-negros,
33 milhões de esperanças, medo.
66 milhões de olhos e ouvidos atentos às 22 chuteiras dos guerreiros da nação,
onde hoje o artista da bola da lugar ao sangue da raça.

O gramado consagrado do Maraca (o qual querem impludir para modernizar - ou seja, fazer um shopping, estacionamento, etc.) onde antigos rivais vão fazer história. Cabe aos que dela serão lembrados, ou lamentavelmente quererem ser esquecidos, como os quase campeões de 1902, 03, 04... até os dias de hoje.

Aos 33 milhões de nervosismos, fazer sua parte, torcer.






@cajuínas

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Gaiatisse de torcedor



O futebol nos proporciona momentos extra campo memoráveis.

Conversa entre um flamenguista e um tricolor no Boteco da Praia, tradicional boteco do Flamengo, ali ao lado da UNE, sobre a derrota do Fluminese pro LDU por 5X1.

Flamenguista:
- Rapaz, não fica assim, não. Vocês têm que acreditar.

Tricolor:
- Mas vai ser difícil... 5X1...

Flamenguista:
- E daí que vocês tomaram de cinco? Agora basta dar de quatro.

Pausa de três segundos.

Tricolor:
- Dar de quatro é o caralho!





@cajuínas

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Coleção Belas Cenas do Cinema

(Quanto Mais Quente Melhor).

Excelente comédia, considerada uma das melhores do século XX. Joe (Tony Curtis) e Jerry (Jack Lemmon) têm que se disfarçar de mulheres para fugir de gangsteres. Claro, passam por várias situações engraçadas e Joe se apaixona por Sugar (Marilyn Monroe). A cena que é famosíssima e deliciosa é a final, onde o milionário Osgood (Joe Brown) impõe um casamento à Daphne, na verdade Jerry. Este último vai argumentando os motivos pelos quais não podem casar, mas nada demove Osgood de sua idéia. Até que ao fim vem a famosa fala. Genial. Atuações geniais que marcaram a história do cinema. Um grande viva pro Jack Lemmon, um ator eterno.



Quem quiser saber mais: Artigonal, texto de Alexandre Augusto Fernandes da Silva



@cajuínas

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Aconteceu em Woodstock



Taking Woodstock de Ang Lee, um filme bacana, não vou me ater tanto aos aspectos do filme como fotografia (correta, faz referência à época e portanto, conservadora, alguns erros de continuidade e de eixo, na sala onde assisti, a máscara de projeção era 16X9 -1:66, portanto um pouco estreita, mas creio que é mais uma referência), edição idem à fotografia, com o uso de algumas multi-telas e wipes, nada surpreendente; sonorização muito boa, e trilha sonora de época, não podia deixar de ser.


Prefiro falar da construção dos personagens. Um elenco muito bom. Muito interessante os contrastes dos Hippies com os yuppies, os caipiras e wasp, veteranos de guerra, policiais e os próprios hippies/empresários. Mas vou me focar em dois personagens, Elliot (Demetri Martin), o principal e sua mãe, Sonia (Imelda Stauton).  Elliot é um personagem todo bem estruturado, um filho que assume a responsabilidade de tomar conta dos pais velhos e falidos, e cuja objetivo dramático é justamente se libertar deste fardo. Demetri compôs seu personagem na maneira de andar, falar, o cabelo, sua timidez, sua maneira de vestir. O personagem Elliot é bem auto-explicado, tanto suas motivações, suas fraquezas, sua homossexualidade é muito bem colocada, e seu choque ao se deparar com o gigantismo que foi Woodstock, às drogas até que por fim, resolve tomar as rédeas de sua vida.



Sonia está muito agressiva em sua linha dramática, a personagem chega a ser irritante, a ponto de o roteiro ter que explicá-la: no início, contando de sua infância fugindo das perseguições nazistas e stalinistas aos judeus, e adiante, quando ao ser desmascarada pelo filho, diz a fala: Eu tinha medo. Imelda é excelente atriz, mas a personagem tem falhas na construção da trama, é avara demais, agressiva demais, chata demais.


Woodstock:




A sociedade americana é sem dúvida a mais influente do mundo desde o fim da primeira guerra mundial. Que outro país teria um festival de rock numa área rural, que moveria o mundo e influenciaria todas as gerações seguintes? Um festival de música que foi em verdade um ato de protesto e resistência ao próprio país, seu conservadorismo, sua atitude imperialista (como a guerra do Vietnã), seu governo, seus preconceitos.

O filme consegue apresentar isso. A crítica à guerra, e a crítica aos Hippies e àquele mundo proposto de drogas, ausência de objetivos, raízes, drogas, promiscuidade e etc.

Vale uma conferida.



@cajuínas

domingo, 15 de novembro de 2009

Sobre o Cajuínas, um breve argumento metido à besta.

Muitos me perguntam sobre o que trata o livro Cajuínas. Pergunta justa, aí vai.




Este livro é o resultado de um trabalho de sete anos de pesquisa e criação. Cajuínas é um livro de contos entrecortados e interrelacionados, sobre personagens reais e mitológicos que povoam a história do Brasil. Tanto a história factual quanto a lendária.


Cajuínas recebeu forte influência do meu trabalho na direção do filme "Histórias". É um filho da tradição oral com a literatura brasileira, onde resgato histórias contadas por meus avós e pais, dos livros de histórias e de narrações de contadores com quem tive contato.


Em Cajuínas me permiti brincar tanto com a linguagem narrativa, imprimindo um ritmo musical xoteado ao texto, permeando a prosa com a rima; como repensei a própria língua, reformulando a função das palavras na frase, a locução verbal e até mesmo, pasmem, a ortografia (como diria meu narrador: Por nada, até que não. Mas achei, no abuso, uma sua graça) .


Ao narrar histórias inspiradas em fatos reais, ocorridos a quem contou, ou presenciados por estes, tanto quanto os fatos registrados nos anais históricos do país, não tive o menor compromisso de relata-los como os ouvi, li, ou conheci, mas, pelo contrário, me permiti reinventá-los, reinventando assim, a mim mesmo.


Espero que gostem. 


Para baixar clique aqui. 0800 galera!

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Uma reflexão sobre o processo criativo


Palestra da escritora Elizabeth Gilbert, (Comer, rezar, amar) pescado do blog Livros e Afins. Elizabeth faz uma abordagem interessante sobre o processo criativo, negando a individualidade e colocando-o dentro de um processo maior. Para Elizabeth este processo é metafísico, eu já o observo dentro de uma realidade sócio-histórico-cultural-psicológica. Ou seja, penso que no processo criativo, as gerações que nos compõem, nossa história, nossa cultura, nossa experiência pessoal, entram em contato. 

Se eu penso em português, minha língua natal, logo toda a minha carga criativa está inserida dentro desse contexto no qual me encontro. Pensando em português, toda a minha forma de ver o mundo e me relacionar com este é específica. Por estar no momento histórico em que vivo, por ter tido a vida que tive, ouvido, visto, aprendido, experimentado o que experimentei ao longo da vida, por ter tido o aprendizado que tive de minha família, das escolas e amigos que tive, somado à forma como minha sensibilidade entende o mundo e todo o processo por que passo; sou o que sou e produzo o que produzo.

"Todo homem nada mais é do que sua própria história naquele momento. Tudo aquilo que viveu, e portanto, viu, sentiu e aprendeu, compõe o que ele é com o instante no qual se encontra." (in Cajuínas).

O instante no qual nos encontramos é todo o processo histórico que resultou neste instante. A nossa própria história é a vida de todos aqueles que vieram antes de nós.

"Até mesmo porque nós não somos somente nós, mas sim, aqueles que caminharam sobre a terra, atravessaram rios, mares, venceram montanhas, plantaram nos vales, dragaram pântanos, caçaram nas planícies. Nós somos aqueles que lutaram, guerrearam, mataram, morreram, escravizaram, foram escravizados, perseguidos, perseguiram. Nós somos aqueles que se juntaram em povos, construíram nações. Aqueles que estudaram as estrelas, as marés, as matemáticas, as línguas, as filosofias, as artes. Estudaram Deus e até hoje tentam Entendê-lo. Nós somos aqueles que continuarão daqui pra frente. Nossa sabedoria pequena não é um presente, ou uma dádiva, é em verdade, uma ferramenta, como um martelo ou um pincel. À nossa sabedoria devemos, ela tem preço. Ela é nossa missão de construirmos vidas melhores. Os nossos saberes são pequenos rios que devem correr para o mar, onde repousa toda a Vontade de Deus." (in Cajuínas)








@cajuínas